2022-08-06

o terror sempre lhe rondará, não tenha medo

 o terror sempre lhe rondará, não tenha medo


considero a tríade liberal (vida, liberdade e propriedade) o melhor conjunto mínimo de princípios que se seguidos guiam a vida humana em direção a sua própria auto-realização. apesar da tríade, o nome desta tradição (liberalismo) expressa apenas "liberdade" como parte integrante de sua própria auto-denominação.


tal nominação não é infundada, mas planejada e serve como alerta sobre o que dentro dessa tríade é de longe o mais difícil de perceber e defender.


não se engane, a liberdade é extremamente perigosa. liberdade, aqui, é uma díade, um conceito com duas faces, e também com dois nomes. inicialmente, em sua primeira face, é o reconhecimento que todos os homens são livres para agir. não existindo nada, portanto, no terreno da liberdade que impeça a livre ação dos homens.


havendo liberdade, homens são livres para agir tanto de modo nocivo em relação a si mesmos e ao próximo, quanto de modo cuidadoso consigo e sinergeticamente salutar em relação ao próximo.


diante deste terreno visivelmente conflitante pode-se escolher preservar a vida humana - tanto do eu como do outro - e tentar frear a expressão violenta desta liberdade com a descrição de regras de propriedade - tentando assim normatizar sinais possíveis de agressão contra a vida dos envolvidos através da manifestação de desrespeito à propriedade privada destes mesmos envolvidos.


assim, o furto, a invasão ou roubo passam a indicar em algum grau um atentado contra a vida das vítimas. não quero aqui produzir sofismas e não estou querendo reduzir a vida à propriedade.


gostaria - apenas - de demonstrar que a propriedade privada, dentro de um cenário de completa liberdade, funciona como um sinal que ao ser desrespeitado indica algum prejuízo ou ameaça cometido contra o proprietário - ser humano vivo do qual espera-se que seja pacífico e fraterno em todas demais situações, mas prudente e capaz de realizar sua auto-proteção assim como ser livre para solicitar ajuda ou mesmo financiar terceiros em sua própria proteção.


a propriedade privada, ao meu ver, é uma inovação tecnológica - dado que é uma sugestão criada por homens (sempre livres) ao invés de ser um reflexo de alguma dimensão oculta da realidade ou algum conjunto de demonstrações lógicas - para o problema da liberdade de auto-proteção ou auto-preservação.


já oferecida uma inovação tecnológica, cabe aqui tentar descrever melhor em que ela se baseia e assim como se proceder para a preservação da vida humana e seus anseios.


sendo o homem livre - e minha função aqui é sempre lembrar a nós da liberdade -, ele pode escolher pautar suas interações e demais relações sociais com intuito único de produzir como resultado destas interações resultados mutuamente benéficos - e tendo como garantia apenas a liberdade de rejeitar tais relações em quaisquer condições ou tempo, mantendo assim uma relação apenas pela confiança por elas - as próprias relações - expressarem a vontade mútua.


assim todas relações humanas, no terreno da liberdade e voluntarismo, visando benefício a todos os envolvidos são preferíveis às demais.


é bom que se tenha a certeza que a ação humana praticada em prejuízo à vida, liberdade e propriedade do eu e do próximo convém ser evitada.


do outro lado, elejo como expressão máxima - e proponho que não exista contra-exemplo - de relação mutuamente benéfica e mais humanamente profunda uma nova tríade - descrita aqui exclusivamente como a figura do pai, da mãe e do filho, pautada por uma união voluntária chamada casamento que se queira indissolúvel e devotada à árdua tarefa de se realizarem por completo e produzirem como celebração desta união a emancipação de sua prole -, a família.


não cabe aqui rejeitar a liberdade de desassociação de qualquer forma - visto que a possibilidade de rejeição é a própria garantia do seu sucesso - e, repito, apenas de apresentar que dentre todos arranjos humanos conhecidos, não existe relação voluntária e mutualmente benéfica mais desejável ou mais profunda que a família.


não acredito que tenha cometido aqui nenhuma transgressão lógica ou moral, e não tenho aqui qualquer garantia além da liberdade de revisão do texto escrito - liberdade de reflexão sobre ele - confrontada pela liberdade de sua crítica e sua ofensa, assim como pela liberdade de sua colaboração ou promoção.


parece-me adequado afirmar que é própria liberdade de pensar e testar, liberdade de dialogar e aprender com o próximo, a maior garantia de que através de experiências e palavras nos movemos em direção à verdade.


assim o que vulgarmente chamamos de liberdade de expressão é, no território intelectual, a maior garantia de que seremos capazes, no território físico, de propormos as melhores soluções aos desafios materiais apresentados pelas ameaças inerentes da vida com liberdade.


a liberdade intelectual - a segunda face da liberdade, aquilo que limita ou determina a própria liberdade a ser o que é, e acredito que seja pelo menos a combinação da emancipação do filho pela família e daquilo que algum dia foi chamado por saúde mental - parece que pode ser influenciada - estimulada ou suprimida - pelo consumo de substâncias psicoativas.


se neste momento nos afastarmos e de longe tentarmos olhar a liberdade em toda sua extensão, em sua completa expressão de sua díade, tratada de modo indissolúvel como a liberdade de pensar e a liberdade de agir - a liberdade em si - o que vislumbramos neste contexto é não apenas aterrorizante, alucinador e caótico mas também o que nos permite dizer ou definir o que chamamos de real.


sem a segunda face da liberdade, o homem não é livre. a supressão da liberdade intelectual compromete as demais liberdades, visto que aquele que não é livre para conhecer e julgar, não é livre para reconhecer e corrigir-se, não é livre para decidir e agir, não tem liberdade, é incapaz de definir ou perceber não apenas quem é, como o que é real.


a esta díade que ora parece contradizer-se, que é cosmo e caos, que é a expressão e auto-reconhecimento de um homem com saúde, não maculado por entorpecente ou doença, vivo e capaz, preparado para o confronto e o diálogo, podemos também chamá-la pelo seu segundo nome: responsabilidade.


dizemos que o homem é livre quando em livre uso de suas capacidades mentais e em livre controle de suas próprias ações, e por reconhecermos que ele é livre, dizemos que ele é responsável.


liberdade e responsabilidade são duas expressões da mesma coisa e também daquilo que somos.


somos humanos - livres, perigosos, e responsáveis.


--


pretendo com este texto cativar o interesse de conservadores e demais tradições políticas alternativas - inclusive conflitantes - a adotar a liberdade - como descrita aqui, ao mesmo tempo ameaçadora e perigosa e ao mesmo tempo pacificadora e fraterna - como um princípio a ser seguido, pois como descrito acredito que sua defesa incansável e rigorosa nos convence a sermos melhores.


ps: a todos interessados numa introdução, extremamente acessível e agradável, ao pensamento econômico de viés liberal, em formato semelhante a um gibi, recomendo a obra de Irwin Schiff - "Como Uma Economia Cresce, e Bem Como Não" disponível para download e leitura online, sem pagamento ou cadastro, no Instituto Rothbard Brasil:

https://rothbardbrasil.com/como-uma-economia-cresce/


ps: ainda que tenha escrito o presente texto, não clamo qualquer limitação em sua leitura ou reprodução (inclusive a reprodução que vise benefício comercial a terceiros, caso consiga) assim como não clamo qualquer limite a toda crítica e ofensa que o texto ou a minha pessoa venham a receber. 


repito, saúdo toda crítica e ofensa como um entusiasta da liberdade, em sua completude, e não apenas da chamada "liberdade de expressão" ou qualquer outro capricho ou parcela arbitrária da liberdade fora sua totalidade.


trilha sonora oficial da presente publicação:

Johann Sebastian Bach (1685 - 1750) 

Toccata & Fugue in D - minor BWV 565 - Stephanuskerk Hasselt

[2013-06-08]

https://www.youtube.com/watch?v=PEHGxpRoZQM

o/

Um comentário:

  1. Gostei. Texto interessante. Acho que conceituou bem e demonstrou o que seria a liberdade e suas fundamentações.

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