2015-11-11

Jogos - VTMB

Vampire: The Masquerade - Bloodlines (2004)




Tomei conhecimento deste jogo recentemente após ler que mesmo 11 anos depois de seu lançamento os fãs continuam produzindo conteúdo (mods) e correções (patches) para o ele. Um pouco de pesquisa e descobri que o jogo ostenta a 5ª posição na lista de melhores jogos de rpg de todos os tempos do site GameBanshee.

Parece que estamos diante de um grande jogo, não? Nem tanto. O jogo é bastante fiel ao universo WhiteWolf e se, assim como eu, você já jogou rpg de mesa encontrará  uma transição bastante coerente da mesa para a tela. Mas infelizmente com um problema: o jogo nunca foi terminado!

Inicialmente produzido pela Troika Games, o jogo foi lançado antes do previsto e muito antes de oferecer todos os recursos planejados - como o modo multiplayer - pela falência da empresa.

Por se tratar de um jogo incompleto baseado num universo de fãs vigorosos, algumas polêmicas virtuais (flame-wars) ocorreram. Principalmente por ficarem nebulosas as definições de "mods" e "patches" neste contexto.

Por exemplo, uma fala que está visivelmente incompleta será finalizada como? Já que não sabemos quais eram as intenções da equipe de desenvolvimento, passamos a criar ou cortar conteúdo. Assim não importa, estamos alterando o conteúdo do jogo, alterando a experiência original ou pretendida pela desenvolvedores oficiais.

Outro exemplo. Uma folha de papel que flutua no ar. Ela deveria estar sobre uma mesa? Dentro de um armário? Trancada num baú? Seu acesso deveria ser fácil ou muito difícil? A informação deveria ser acessível para todos os clãs? Para ambos os gêneros? Para todos independentes de sua ficha de personagem (character sheet)?

Com apenas dois exemplos já é possível demonstrar o quão turva é a linha que separa a correção (patch) da alteração (mod), neste contexto. Apesar da dificuldade vamos listar e debater um pouco as versões disponíveis.

Existem basicamente três grandes patches disponíveis, cada um com vantagens e desvantagens. Todos são soluções completas e devem ser aplicados apenas em instalações originais do jogo. E em todos os casos os jogos salvos antes do patch são incompatíveis com o jogo pós-patch, devendo o jogador re-criar seus personagens do zero.

a) Patch official: versão 1.2 (2004) + dlls corrigidas (leaking memory, 2013).

Substitua as dlls corrigidas após instalar o patch 1.2 e terá o mais próximo da experiência oficial com apenas correções de falhas (bugs). Este é o método usado em speedruns do jogo e na versão disponível na Steam. Caso tenha alguma dificuldade em sistemas 64 bits, leia este tópico.

b) Patch/Mod: True Patch Gold Edition #8 (2012).

Produzido por Tessera com o intuito de alterar o mínimo possível a mecânica e experiência oficial. Porém, para realizar tal tarefa um pouco de conteúdo teve de ser produzido. Infelizmente, este patch não funcionou em meu notebook, mas também não me esforcei em tentar instala-lo pois a documentação oficial - que beira ao absurdo, diga-se de passagem - não recomenda seu uso em notebooks ou hds não desfragmentados!

c) Patch/Mod: Unofficial Patch 9.4 (2015/09/01).

Produzido por Wesp5 & The Bloodlines Community com o intuito de completar o jogo, re-ajustar sua mecânica, reconstruir conteúdo (mod) e corrigir defeitos (bugs). Sim, a alteração é muito grande.

Sua documentação não é muito esclarecedora mas ao menos o instalador funciona perfeitamente. Foi ele que usei para rodar no meu notebook (W7 64, Intel HD Graphics) de modo bastante satisfatório.

Em quanto nos outros patches é necessário realizar alterações manuais de arquivos e leitura atenta de guias, neste patch basta executar o instalador em modo administrador sobre uma instalação limpa do jogo e pronto!

Este patch durante a instalação lhe oferece duas versões: Basic e Plus. Mas não se deixe enganar, mesmo a versão basic não é exatamente fiel ao conteúdo original. Já há grande alteração na mecânica e complementação de conteúdo.

A versão plus, entretanto, vai muito além e adiciona modo história dos personagens, disciplinas, missões, locais, itens, diálogos, músicas, npcs, efeitos gráficos e sonoros. Eu falei npcs? Chove policiais na versão plus, :p

Além dos patches apresentados o jogo possui dezenas de mods e addons (mudanças normalmente cosméticas em um personagem ou npc). Como não testei nenhum, não tenho muito a dizer a respeito. Apenas que dois chamam a atenção: VTMB - Camarilla Edition, que muda a mecânica e missões do jogo e VtM - The Final Nights, que é sua continuação. Ambos e muitos outros podem ser obtidos em ModDB.

Considerações finais: O jogo é pequeno, hermético, mal balanceado, incompleto, apelativo e mesmo atualizado cheio de bugs.

Pequeno. Zerei o jogo duas vezes em 3 dias. A primeira vez com uma Malkavian com UP Plus (Unofficial Patch) e a segunda vez com um Gangrel com UP Basic. Em speedruns usando-se ao menos 2 glitches (abrindo uma porta ao contrário - com pouco ganho tempo - e pulando um muro para antes de um dos chefões finais - com muito ganho de tempo) o jogo termina com menos de 56 min, com possivelmente todas as missões obrigatórias realizadas.

Hermético. O jogo foi feito e pensado para jogadores de rpg de mesa. O comportamento do jogo em batalhas ou o comportamento exigido pelo personagem poderá ser estranho para alguns jogadores. No seu primeiro contato com o jogo, a sensação de estar perdido é recorrente, apesar de em geral as pessoas ou os prédios que precisará visitar serem os mais próximos de onde está. Há também alguns desafios que dificilmente são resolvidos sem ajuda de material externo, como manuais ou vídeos. Um exemplo é uma bomba de água dos esgotos, outro é durante um experiência científica realizada contra o jogador.

Mal balanceado. O jogo neste aspecto é confuso. A maior parte do jogo é bastante fácil com alguns poucos desafios bastante puxados sem graduação entre eles. Aparentemente algumas missões obrigatórias exigem certos níveis de security (abrir portas com lockpicks), computer (manipulação de computadores) e controles de interações públicas (seja intimidate, persuasion, seduction, dementation), não sendo possível completar o jogo sem elas. Um personagem próximo do final do jogo, por exemplo, quebra portas, sem precisar de chave ou lockpick para atravessa-las, e, aparentemente, o jogador não pode fazer o mesmo.

Mal balanceado (2). Dinheiro mesmo sem haggle não falta. Afinal, você não vai juntar suas economias para as férias em Acapulco. Com o que ganha, você compra tudo o que precisa. Você nunca precisará comprar munição. Dá para comprar uma ou duas roupas de proteção, andar sempre cheio de bolsas de sangue - até porque são poucos os locais que dependerá delas - e ainda comprar os itens mais fortes, como flamethrower e bush hook.

Mal balanceado (3). Em apenas 5 momentos no jogo você precisará usar armas de fogo. Em 3 deles o uso é obrigatório para finalização da quest e em 2 bosses o uso é recomendado. Mas em todos os casos os alvos estão em close range, nem é preciso ter pontos em firearms para realizar a quest ou matar os bosses. A primeira vez que joguei, meu personagem tinha 0 em firearms, estava até preocupado, e não fez diferença. Aparentemente, firearms ajuda muito em tiros a longa distância, mas são poucas oportunidades no jogo que elas são possíveis. A maior parte do tempo você está dentro de um mesmo quarto ou uma mesma sala com seu adversário.

Mal balanceado (4). Dá para zerar o jogo unarmed (brawl) com facilidade, sem investimento pesado em physical, com apenas 3 exceções, já descritas acima. Até prefiro jogar unarmed + bloodbuff que usando protean 5.  Pois com protean, normalmente, você dá muito dano no primeiro hit e projeta o inimigo para trás, aumentando sua distância, e se fazendo errar os golpes seguintes. Seu personagem fica completamente indefeso e normalmente é punido nestes casos. Enquanto, unarmed você dá menos dano, mas acerta 3 hits com facilidade, derrubando o adversário, sem possibilidade para contra-ataques.

Mal balanceado (5). Você ganha dinheiro e pontos de experiência por completar missões. Não há nenhuma vantagem mecânica em limpar um prédio infestado por zumbis, bandidos, policiais, caçadores, vampiros ou monstros. Pode passar correndo... só bosses você precisa enfrentar. É um rpg que você pode chegar no final sendo mestre em artes marciais sem nunca ter lutado, :s

Incompleto. Além de ser um jogo curto, muitas missões, principalmente as não-obrigatórias, parecem mais rascunhos que tarefas realizadas por vampiros. Como a tarefa de instalar webcams, buscar cd-roms, buscar fitas de vídeo, não poder matar humanos num navio lotado de policiais em alto-mar, matar grupos de mafiosos, invadir emails pessoais para realizar extorsões, convencer um crítico culinário a reprovar um restaurante...

Incompleto (2). O jogo tem poucos bosses, muitas lutas contra policiais/bandidos (humanos) e alguns monstrinhos bem estranhos. Falta um pouco de desafio nos combates e como unarmed parece funcionar bem, as lutas se resumem a cliques constantes no mouse ao invés de uma desenvoltura maior com disciplinas - se preocupando com cooldowns, gasto de bloodpoints e as sinergias entre elas. Enfrentar mais bosses, mini-bosses e ganhar experiência por enfrentar mobs, aumenta a dedicação ao jogo, dá sentido aos confrontos e permite produzir personagens únicos e pelo menos duas novas estratégias: vencer com ou sem grinding/farming.

Incompleto (3). A possibilidade de realizar diablerie com todas as consequências negativas melhoraria muito a dinâmica do jogo. A possibilidade de aliar-se ao Sabbat. A possibilidade de jogar como caçador (kine). A possibilidade de ser caitiff/thin-blood. A possibilidade de matar um número maior de npcs, barões e príncipes e tudo isso influenciar no jogo. Um número maior de finais ou pelo menos finais mais distintos - basicamente são 3: ou você abre o caixão, ou você não abre e outro abre, ou guardam o caixão fechado. Um final como: você decidisse migrar para a Europa para ser príncipe lá, dando espaço para uma continuação da história do seu personagem; ou aniquilar os anarchs de todo USA; ou começasse a caçar antediluvianos... Tudo isso melhoraria muito a imersão no jogo.

Apelativo. O jogo tem também suas preciosidades! Os diálogos algumas vezes surpreendem, sendo bem interessantes. O comportamento do jogo sendo malkavian é um show à parte. E há locais que você precisa conhecer: o Tremere Haven, o Nosferatus Haven, o Malkavian Maze e a Mansão Assombrada. =]

Defeitos. Você ficará preso simplesmente ao abrir algumas portas necessitando voltar para o último save. Os npcs travaram em objetos e elevações de terreno, e você poderá agredi-los através de paredes. O save poderá bugar e lhe mandar para uma região próxima do local original, principalmente em elevadores. Ao menos não tive nenhum crash utilizando o UP Basic ou UP Plus.

Defeitos (2). Se durante animações houver problemas... por exemplo, há um bug raro - "raro" segundo os tópicos que li na internet, mas acontece na primeira vez que joguei! - na missão Necromantic em Downton. Durante uma animação o npc que deveria abrir uma porta trava e para resolver você precisa abrir o console do jogo com o botão ' (aspas simples) e digitar dois comandos distintos, um por vez: camera_killchareditor. Depois minimizar o console e apertar Esc para voltar ao jogo. Neste caso, não se preocupe mesmo que o personagem continue preso a missão foi concluída e receberá seu prêmio.

O jogo tem muitos muitos problemas para ser considerado um dos top 5 rpg de todos os tempos e de todas as plataformas. Talvez só no Super Nintendo podemos encontrar 5 rpgs melhores, mantendo leve a competição. Ainda assim não é um mau jogo. E seguramente alegrará aos fãs da WhiteWolf, mas não me parece se sustentar aos demais públicos!

No fim, TL:DR: nunca acredite num malkavian! "Stooop doing that"


abraços

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